Chama-me de criança. Não uma, mas muitas, muitas vezes, preciso ouvir-te dizer de modo a poder interiorizar, a poder compreender a imatura que sou por me atrever sequer a gostar de ti. Maltrata-me, injuria-me, dá-me a provar o meu próprio veneno. Tu... tu falas do meu amor como se alguma vez tivesses experienciado algo de semelhante. Podes acusar-me de ter medo. Tenho. Tenho medo do teu silêncio, tenho medo da tua retaliação, tenho medo das tuas explosões, tenho medo da tua sedução. Acima de tudo tenho medo de mim mesma. Mas tu és daqueles que nunca falam do seu próprio medo. Diz-me mais. Afronta-me, confunde-me, perturba-me. Diz-me que não te importas, diz-me que nada em nós faz sentido. Se foi apenas um mero divertimento, mais uma das tuas efémeras conquistas, se passou mais veloz que um furacão demolidor, se não deixou uma mácula saudosa, uma recordação enternecedora, se não ficou em ti uma réstia do sabor do nosso último beijo, então diz-me apenas que sou nada, somente pó e cinza e esquecimento... Diz-me que não te fiz sentir.... Sabes que é para ti......... sexta-feira, abril 08, 2005 Nada... Um cigarro lascivo numa mão de mulher, as unhas absurdamente pintadas de vermelho, luxuriante, sangrento. O olhar perdido, numa rendição suprema, uma ausência de domínio, um descontrolo desenfreado e febril. As mesas espalhadas aqui e ali, ordenadas, num alinhamento perfeito. Ihas no meio do oceano. O oceano onde aquelas mãos se perdem, revolvem-se, num contorcionismo mudo. O esforço para não mergulhar no tentador abandono, desregrado, ignóbil. A luta infrutífera, o combate ao eterno comodismo, um não querer mais forte que tudo o resto, uma decisão adiada. Um mar de contradições, bravio e revolto. Mãos que buscam, que se procuram, que se torcem em desespero. Mãos sem possuidor, livres, inertes, abandonadas. Sentem, sentem. Um vasto desenrolar de sensações. Não são as minhas mãos, já não sei o que é meu, quem sou, já não sinto. Tudo táo irreal. Sou o que sinto, mas não sinto o que sou. Não sinto, não sou. Nada. Nada. |
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