Acometida por uma tristeza quase palpável, sentou-se na varanda e confessou aos cigarros o que lhe apetecia gritar bem alto. Nuvens de fumo rolavam por entre os lábios, clamando o beijo que tardava a chegar. A felicidade que a inundava devido á sua presença recusava-se a ceder ao desânimo que provocaria o temido adeus. E para ali ficou, ensimesmada, a cantarolar baixinho o que lhe ia na alma, desiludida e amuada como uma criança pequena. Foi então que todos os seus receios se dissiparam e mais uma vez ele a surpreendeu. O almejado beijo. Olho-te e a minha cabeça anda ás voltas com a disconexão vertiginosa de pensamentos. Relembro, perspectivo, recordo, equaciono, recrimino-me. Perco a minha coerência e deixo de ser una e indivisível para me tornar em pequenos fragmentos retóricos. Será possível terem decorrido apenas quatro semanas? A confirmação provoca-me um sorriso e ao mesmo tempo um frémito de medo que me arrepia. Deitou-se no chão e esvaziou o pensamento, afastando para longe toda e qualquer obstinação. E, muito devagar por medo a afugentá-la, abriu os braços aos raios de felicidade que se aproximavam de mansinho e que há muito teimavam em despontar... Desculpa... quarta-feira, julho 13, 2005 O nosso mundo Abriu primeiro um olho, depois o outro, ao mesmo tempo que um beijo aterrava nos seus lábios. As persianas entreabertas deixavam adivinhar uma réstia de luz que se coava para o interior do quarto ainda semi-adormecido. Espreguiçou-se de uma forma quase felina, libertando-se do torpor que a invadia. Encontrou aconchego nos braços que a rodeavam e aí se aninhou, convicta de que o primeiro cigarro do dia lhe ia saber bem. A tarde extingue-se aos poucos, já não é dia mas também ainda não é noite e esse impasse fascina-a por momentos. Alienada, talvez seja essa a palavra. O mundo está lá fora, a dois passos, espera por ela, incita-a a regressar, perturba-a e confunde-a. Resoluta, fecha a janela e mergulha no universo surreal que juntos construíram. A noite ainda é uma criança e é nossa. Enquanto estivermos aqui, juntos, a noite acompanhar-nos-á, sempre. "Dois corpos despidos abraçados no nada..." |
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