Naquela noite, ela soube que podia ser tudo o que desejasse, anjo ou demónio, celeste ou fatal. Não precisou que ele pronunciasse uma única palavra para captar o desejo contido no seu olhar. Um olhar que revelou tudo o que ele se esforçou por manter em segredo. O segredo que já todos pressentem, mas não desvendam. Mas, naquela noite, o mundo pertencia-lhe e ela pertencia ao mundo, e ansiava por acalmar a sede que a entontecia, a voracidade que a queimava, qual chama inextinguível. Uma breve troca de palavras vibrantes de desejo, os olhos a desenharem o beijo que os lábios não podiam saciar. A centelha da luxúria a percorrer cada milímetro da sua pele, clamando pelo contacto electrizante que iria matar todos os seus demónios. Naquela noite, ela sentia-se capaz de mover multidões, de comer o mundo às dentadas. O cigarro ocupava-lhe os lábios sem os satisfazer, a bebida acalmava-lhe a sede sem a matar e o corpo ondulava em tumulto de devassidão. Um espasmo exacerbado, uma carícia disfarçada, um roçagar de corpos imperceptível. A despedida de uma noite de encantar, um beijo ao canto da boca e a doce certeza de que a espera que antecede o prazer é, por si só, um excitante prazer... |
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